Já com o sentimento de que aquele seria realmente um longo dia, peguei a escada nos braços.
-Meninos, eu vou cuidar da árvore de natal, Noah vai colocar os enfeites simples no jardim, e Ollie vai carregar essas renas e o presépio e ligar tudo na tomada! Mas vamos fazer desse o mais lindo jardim de natal de Nova York e fazer os turistas que vão para o Blooklin lamentarem!
-Legal! - Noah saltitou para o jardim, já com alguns enfeites nas mãos. Entre eles, lacinhos para colocar nas plantas com guizos para quando o vento soprar e guirlandas para as árvores. Tudo bem ostentação natalina, do jeito que o casal Cooper gostava.
-Isso aqui deve pesar uma tonelada! - Ollie reclamou, ao tentar pegar uma das renas, que carregava, mas com dificuldade.
-Vai se acostumando! Se não seguir a área de negócios do seu pai, nada fácil te espera! - Alertei. - Se te serve de consolo, as coisas também não estão fáceis do meu lado!
Terminamos em algumas horas. No final, os dois me passavam os últimos enfeites para eu subir no pinheiro e colocar. E no final, tínhamos nosso pedacinho de Dyker Highs: Luzes em todos os lados e enfeitinhos bonitinhos, um presépio, tudo a boa vista das pessoas que passavam e que melhorava ao seu caminhar pelo jardim. Mas então, ao lembrar de Dyker Highs, foi que ocorreu algo.
-Meninos, eu preciso conversar com vocês, venham!
Os dois se aproximaram, com curiosidade.
-Eu sei que vocês provavelmente conhecem Nova York toda, já foram e viram tudo o que há para ver aqui na cidade, principalmente os programas de fim de ano, mas, bem... Eu ainda não tive tempo de ver nada. E sua mãe me pediu para encontrar algo para vocês fazerem por esses dias, agora nas suas férias de fim de ano. E bem, seria legal se vocês fossem ver Dyker Highs comigo, as peças de natal como no Radio City Music Hall, Winter Village no Bryant Park, enfim, e se, dessa vez, vocês é que fossem me levar para conhecer a cidade? O que acham?
-A gente vai todo ano no Winter Village, mas nunca me deixaram patinar no gelo! - Noah lembrou.
-Acho que dessa vez você deve ter crescido um pouquinho, acho que pode entrar comigo! E Ollie, sei que tem muitas garotas lá no Macy´s Santaland! - Brincando novamente, como no episódio do Halloween! No máximo teriam mães com suas crianças, afinal, era a terra do papai noel!
-Eu quero, eu quero, eu quero! - Noah se empolgou.
Só não fomos naquele dia mesmo porque eu já estava morto de cansado, e os meninos também.
* * *
No dia seguinte, começamos. Levei os meninos para o primeiro lugar que me veio a mente, entre tantos para se ver no natal. Geralmente os Au Pairs pedem despensa por um dia para sair com os amigos, mas, não sei se foi algum tipo de azar meu, não fiz amigos americanos, apenas alguns conhecidos, então era bom sair com os meninos para variar e ainda receber por isso. Paguei mais de cento e cinqüenta dólares para levá-los para patinar naquele que era um dos melhores lugares para patinar do mundo, depois de garantir que os dois estavam devidamente agasalhados. Ollie pôde entrar sozinho para patinar, por ser mais velho, e disse que ia circular por aí (a pista era enorme e cheia de pessoas patinando, fácil de se perder, mesmo sendo ambiente fechado) para ver se encontrava alguma garota. Então, Ollie entrou comigo como responsável.
-Tudo bem, eu vou te ensinar a patinar! Ou pelo menos ficar de pé! Não pode ser diferente de patins de rua, né? - Perguntei, enquanto os colocava nos pés dele.
-Acho que não!
Entramos e começamos a andar devagar, de mãos dadas. E era uma recompensa e tanto, mais do que estar ali, ver Noah sorrindo ao conseguir ficar de pé com cada vez menos apoio. Mas o destino, o destino é uma caixinha de surpresas. E eis que, do nada, somos os dois atingidos por outra criança, que havia disparado e se chocado contra nós. E antes que eu pudesse sequer abrir os olhos e perceber quem era, alguém já havia se jogado em meus braços, me agarrado ali mesmo sobre o gelo e começado a berrar a plenos pulmões e em bom português.
-Tiiiiiiiooooooooo!
E eu não podia acreditar, ao notar de repente, que o destino havia trazido o passado para mim novamente, sem nem sequer pedir licença, quando eu finalmente o havia superado. Lá estava ele. Era o Pedrinho, o Pete, dos meus tempos de babá no Brasil, nos meus braços, perguntando o que eu estava fazendo ali, e ignorando completamente os olhos curiosos de Noah. E eu me recordei como tinha esquecido. Não achei que sentiria aquele abraço novamente, ou menos ainda que poria meus dedos naqueles cabelos loiros para fazer um carinho novamente, ou que veria aquele sorriso tão de perto.
-Pete...
Continua!
----
Episódios anteriores:
Parte 1
Parte 2
Parte 3
Parte 4
Parte 5
Parte Final
O Winter Village do Bryant Park existe de verdade em Nova York, e seguem algumas fotos do lugar:
.
