Pete e a Parede - Pete #20


   Um belo dia atravessando o corredor do apartamento, vi o Pete, nessa época já com sete anos, sentado quietinho no corredor. Me afastei e me escondi em um dos quartos como se estivesse num jogo de tiro invadindo a área inimiga e visse um deles no corredor. Quando foi a última vez que vi o Pete quietinho no chão daquele jeito? Não, tinha que ter acontecido alguma coisa. Será que eu tinha colocado ele de castigo e não me lembrava? Se fosse isso, eu não podia nem olhar para ele ou estaria me desautorizando! Ele ia fazer aquela carinha para tentar me fazer ter dó e deixar ele sair, e eu não podia ceder. Mas tinha um problema ainda maior. E se ele estivesse passando mau, e por isso estivesse quietinho? Nesse caso eu tinha obrigação de conversar e dar atenção a ele!
   Assim, eu estava refém do meu próprio compromisso com ele, e com a ansiedade atacando. Tentei ir, mas minha mão segurou no batente da porta me impedindo de ir. Ele tinha feito alguma coisa, tinha que ter feito alguma coisa, era o feitio dele. O que é que faria ele ficar quietinho, paradinho assim no corredor se não um belo castigo? Certo, nem isso, nem mesmo isso faria o Pete ficar parado daquele jeito! Eu já estava há quase quatro anos naquele apartamento, sabia que nem isso! Ainda assim, se eu tomasse a decisão errada com certeza ia jogar minha autoridade para o espaço e seria um péssimo tio babá!
   Olhei disfarçadamente. Ele ainda estava lá, olhando para a parede. Se eu tivesse colocado ele de castigo e por alguma razão, algum milagre divino dos céus ele resolvesse respeitar isso, o pior que podia fazer era tira-lo, certo? Tentei puxar pela memória, mas realmente não me lembrava se tinha ou não feito isso. Sem muita certeza. Até que então, depois de muito pensar, tive uma idéia. Uma reação neutra, que valeria para qualquer situação possível: Passei pelo corredor e olhei rapidamente, de canto de olho.
   -Você pode sair, se quiser!
   -Vieram! - Gritou.
   -Que?
   Quando vi, um grupo de formiguinhas subia por aquela parede enquanto Pete sorria de orelha a orelha as observando.
   -Você... Ficou aí esperando para ver as formigas até agora?
   -É, elas iam sair a qualquer momento!
   Eu fiquei meia hora escondido no quarto achando que ia ser um péssimo babá se tomasse a decisão errada, tive um ataque de ansiedade, enquanto ele esperava para ver formiguinhas saindo da rachadura da parede. Qualquer dia Pete acabaria me obrigando a beber!

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