Chamou minha atenção á força do ódio!


   Eu achei que deveria realmente contar essa história aqui porque uma conhecida que estava lá naquele dia contou para a minha mãe, e aí eu imagino que, já que a maior parte da cidade vai saber o que aconteceu, por mais que o evento seja uma grande b#sta lastimável para mim, então é melhor que ele pelo menos renda umas views aqui no blog.
   Já faz alguns meses. Saí de casa bem cedo pela manhã para ir no médico, e só por acordar cedo eu já estava estressado. Eu tinha que sair de lá pelo menos dez horas da manhã para poder chegar a tempo no serviço, o que no fundo eu sabia que não ia acontecer, mesmo sendo seis horas da manhã, porque era a c#ralha de um posto de saúde público, e em um posto de saúde público não importa a hora que você chegue, você pode acampar durante vinte dias na porta do posto para garantir um lugar na fila como se você fosse uma adolescente retardada cheia de hormônios querendo ver macho cantando no meio de uma multidão suada e barulhenta e provavelmente se expor a batedores de carteira (e por "carteira" eu quero dizer b##eta mesmo), ter que pagar por isso, e ainda assim não vai sair de lá cedo! (Acho que já deu para sentir como lembrar do episódio me deixa p#to, né?).
    Como eu tinha chegado antes de o posto abrir, o que ia acontecer uma hora depois, eu tinha que encarar uma fila de umas vinte pessoas. Isso porque eu cheguei as seis horas. E aí eu pergunto: Que horas o maldito que estava no primeiro lugar na fila acordou para conseguir esse feito, que eu tento isso a vida inteira e não consigo? Mas enfim, esperamos, e esperamos. Até que começou a chover. E para a gente não ficar debaixo de chuva (porque também tinha umas duas idosas lá) uma mulher saiu de dentro do posto e abriu a porta, mas a condição era que a gente só seria atendido no horário de sempre de funcionamento do posto. Só que, quando a chuva começou, metade da fila sumiu e não percebeu que alguém abriu o posto. Mas o pior foi que a moça do posto não se deu ao trabalho de anotar qual era a ordem da fila antes da chuva, e mesmo assim, quando deu o horário que o posto ia começar a atender, com uma tremenda cara de pau, se aproximou com cara de paisagem e disse:
   -Por favor, fila aqui no balcão agora na ordem em que vocês chegaram!
   Vou repetir:
   -Por favor, fila aqui no balcão agora na ordem em que vocês chegaram!
   VOCÊ ACHA QUE O POVO LEMBRA, DESGRAMA? Fazia meia hora que a chuva tinha começado e a gente tinha entrado no posto de saúde! Evidente que ia dar briga! E pior que nem eu lembrava da ordem que eu estava na fila. Só fui atrás da senhora que estava na minha frente antes. E nisso entra uma outra senhora, e se coloca na minha frente.
   Gente, Deus sabe que ninguém nesse mundo, ninguém respeita os mais velhos mais do que eu, tanto que todos os meus professores da faculdade estão vivos! (Tá bom, eu forcei a barra agora, mas vocês entenderam!). Mas naquela hora não deu. Não deu mesmo.
   -Senhora, eu não vou falar muito alto para os outros não ouvirem, mas eu teria todo o direito de pedir para a senhora ir para o final da fila!
   -Não, eu estava na sua frente! - Começou a falar alto, e a partir daí a conversa foi toda em alto e bom som.
   -Mas quando a chuva começou a senhora foi embora!
   -Eu fui me abrigar no moto taxi! (Na outra quadra!)
   -Enquanto isso eu fiquei na fila enfrentando a chuva para ser atendido como todo mundo aqui!
   -Você tá reclamando de barriga cheia, ainda é um dos primeiros!
   Enquanto isso a moça da recepção aparentemente evitando fazer movimentos bruscos.
   Gente, se por não ter levado aquela mulher pelos cabelos até o final da fila eu não garanti meu lugar no céu, eu sinceramente não sei mais o que eu faço, além de concordar que vaga no céu tá mais difícil que na USP!
   Acabei deixando ela vencer. Não queria ser preso.
   E por fim, para coroar aquele dia que já tinha começado uma tremenda b#sta cagada, simplesmente se auto-invocou na sola do meu tênis exatamente isso: Uma b#sta cagada. Eu nem tinha percebido, porque meu nariz só funciona literalmente quando quer. E começou um burburinho sobre o cheiro entre as pessoas que estavam esperando para ser atendidas. E eu disfarcei. Em vão.
   -FOI O MOLEQUE! - Gritou outra velha. - TÁ VINDO DESSE MOLEQUE AÍ!

   "Chamou minha atenção á força do ódio!
   Que é livre para voar, durar para seeeeeeempreee!
   (Insira aqui o leãosinho da Videokê!)"


   -A senhora me desculpe! - Respondi, pleníssimo. - Fui eu sim, mas eu não vou lá fora na chuva para limpar isso só porque a senhora quer!
   É para pagar mico? Então, vamos pagar com dignidade e cair atirando!

   Dois dias depois minha mãe chega rindo em casa repetindo a frase de qualquer uma delas que fez a fofoca para ela.
   "Menina, como seu filho é barraqueiro!".
   Se eu não conseguir ir para o céu depois de passar por tudo isso num intervalo de menos de uma hora, o céu vai virar um deserto! Só digo isso!

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