Pequenos Americanos #09: Olha a Boca! - 1 de 2


   Até então eu nunca tinha pensado em ensinar minha língua para os meus meninos em Nova York. Eles já tinham todos os seus deveres da escola, que já era muito exigente em relação as escolas do nosso país e Ollie andava saindo algumas vezes para ver aquela pessoa, então não queria tomar mais tempo deles. Até que aconteceu uma coisa.
   Durante o almoço, ouvi eles começarem a discutir por qualquer coisa que até então estava ignorando completamente. Até que ouço Ollie soltar um palavrão.
   -Olha a boca! - Impus.
   Então os dois pararam e olharam para mim como se eu tivesse dito alguma coisa bem bizarra. Noah se levantou, veio até mim, subiu no meu colo e encarou meu rosto com curiosidade. Confesso que um arrepio de medo desceu a espinha naquele momento.
   -O-o que você está fazendo?
   -Olhando sua boca, como você disse!
   Ah, meu deus. Por um momento achei que ia ter de travar aquela conversa sobre meninos, meninas e bebês.
   -Foi um jeito de falar, Noah! - Coloquei ele no chão. - Não quero que falem palavrão! Vocês tem que se comportar ou seus pais me mandam embora! E quando digo para olhar a boca, é como dizemos no meu país para a alguém próximo prestar atenção em como fala, algo como "be careful with your words!" como dizemos aqui em Nova York!
   -Ah, tá!
   -Há muitos ditados diferentes! Aqui, quando algo é fácil de fazer vocês dizem que é um pedaço de bolo! Nós dizemos que é mamão com açúcar!
   -Então deve valer uma nota! - Disse Ollie.
   A piada do Ollie fazia sentido porque algumas frutas e verduras brasileiras não são muito cultivadas em larga escala nos EUA, a maioria é importada do Brasil e portanto, são muito mais caras que no nosso país.
   -Posso ter tido uma ideia agora! - Olhei para o Ollie. - Porque não diz umas coisas em português para a pessoa que você gosta?
   -Não sei falar seu idioma esquisito! - Resmungou.
   -Eu aprendi o seu, você pode falar o meu, nem que seja um "eu te amo"! Vamos, ela vai gostar!
   Ollie então pareceu pensar nela por um instante.
   -Eu tenho escolha?
   -Considerando que uma das coisas que quero é que você passe mais tempo com o seu irmãozinho, não! - Sorri.
   A partir daí, eu não tinha ideia do que podia esperar!

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