Da redação #02: Sobre a questão Política



   Eu tinha começado há bastante tempo no blog, e os leitores mais assíduos devem lembrar, um quadro chamado "Express" que podia sair a qualquer momento sobre as coisas que estão acontecendo no momento, e de vez em quando esses posts ainda podem acontecer, mas é difícil falar de política fazendo piada num momento desse.
   É desanimador demais pensar nisso. Quando eu era adolescente ficava pensando no caos da peste negra na Europa na idade média e ficava imaginando se algo assim acontecesse hoje que temos vacinas e outras tecnologias médicas, meios de comunicação muito amplos e rápidos para mapear o andamento da contaminação e para avisar as pessoas, se milhões de mortes não seriam evitadas.
Mas não, milhões de mortes não estão sendo evitadas. Por esses dias consegui máscaras para duas senhoras de idade da minha rua (uma delas até já apareceu aqui no blog em uma história com nome trocado) e tenho tentado fazer minha parte. Mas é difícil ver como o ser humano se tornou, de uma forma geral nojentamente insensível e não se move ao ouvir falar em milhares de mortes. O mesmo sobre a truculência da polícia, sobre negros sendo perseguidos de todas as formas pela sociedade, quando não assassinados, e essa é outra coisa para a qual vejo muita gente nem piscar. E entristece para c#cete.
   Esses casos do George Floyd e do Miguel me fizeram pensar nos meus amigos negros. Puxa vida, será que eu vou acordar um dia e o Marcio não vai mais estar aqui só por ser negro? Ou a Daniela não vai estar presente para o seu menino um dia porque um branco, possívelmente um policial, não quis? Será que Carlos qualquer dia não vai chegar em casa da igreja onde toca bateria por causa da sua pele? A gente está vivendo tempos muito sombrios onde pensar "isso foi bem longe, não tem nada a ver com o interior!" é doce, mas é de uma tremenda ingenuidade. Rezo para que todos eles estejam bem. E por isso mesmo não revelo seus nomes reais.
   Sempre falei de desigualdade social, que é uma das raízes de tudo isso, e não vou detalhar o que penso aqui agora. Mas dá para imaginar um mundo em que criticar isso é coisa que te torna inimigo da nação? Querer direitos humanos é querer todo o mal do mundo? Educar as crianças para terem senso crítico e pensarem de maneira autônoma é destruir a infância?
   Enfim, o Brasil de Bolsonaro e Olavo só mostra como o Brasil é um poço que não tem fundo!
   E só resta o desânimo!
   O desânimo!

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