Pequenos Americanos #10: Quarentena - 3 de 4

 


   Enquanto isso, no restaurante no Brasil, um dos últimos a seguir as regras da justiça e fechar em função da pandemia, Jéssica e Pete aguardavam que chegassem os lanches que pediram. Pete estava inquieto, enquanto o namorado de Jessica parecia emburrado.

   -Porque você tá com essa cara?

   -A gente vai mesmo se despedir, sem... Aquilo?

   -O que quer dizer?

   -Como a gente vai fazer qualquer coisa depois daqui com esse empata f#da do c#ralho atrás de você?

   -O que está acontecendo, Mário? Você não é assim!

   -Aí, sei lá, ansiedade de ter que ir embora, você sabe! Vou sentir sua falta! Vai ser difícil ter que ficar na mão durante tanto tempo!

   -O que é "ficar na mão"?

   -Sua vida dos doze para frente, pirralho chato! - Resmungou o homem.

   -Mário, já chega! Não vou permitir que você trate minha criança desse jeito, ainda mais aqui! - Falou em voz baixa, enquanto entregavam os lanches.

   -Você vai ser chata assim quando a gente tiver filhos, Jéssica? Vai ficar de gracinha por causa de criança também?

   -Mario, para, você está me envergonhando!

   Pete então, do nada, joga o seu copo de refrigerante no rosto de Mário, fazendo o homem berrar de raiva, enquanto esfrega o rosto. Se levantou rapidamente e mostrou a língua para ele.

   -Nanananana! Você não me pega!

   -FILHO DA P#TA! - Berrou.

   Mario então corre atrás de Pete para fora do restaurante. Jéssica iria atrás, mas teve de ficar para pagar a conta dos três, preocupadíssima com o que Mario ia fazer com ele se conseguisse pega-lo. E claro, com o que ela ia dizer para Maurício e Raquel se algo acontecesse. O fato é que estava se sentindo um trapo. tinham se conhecido pela internet e se encontrado apenas duas vezes, mas Mário nunca pareceu ser assim. Nunca falaram sobre o assunto, mas o sonho de Jéssica, principalmente depois de Pete, era ser mãe futuramente. Mas esse homem tinha resolvido tirar a máscara na pior hora.

   * * *

   Eu do meu lado também estava em apuros. A coisa começou quando eu descia as escadas levando os roupões para os meninos, que estavam em mais um dia de piscina e uma mão forte agarrou meu braço, me segurando e arrastando atrás dela do nada e sem o mínimo de delicadeza. Era Marcos.

   -Vem aqui!

   -O-o que houve, senhor?

   -Eu é que quero saber!

   Me levou até a lavanderia, onde não havia ninguém além de nós dois. Aquilo me deixou com medo e minha ansiedade começou a atacar. Eu já sabia que Marcus não gostava de mim, mas estava machucando meu braço, e aquilo passava do limite. E muito. Mas não conseguia nem pensar no que fazer. Me fez sentar na cadeira da lavanderia, tirou os roupões das minhas mãos com grosseria.

   -O que c#ralhos você disse para a minha mulher, seu m#rda?

   -Nada! Eu não sei de nada!

   -Ela pegou meu celular e viu minhas mensagens com minhas secretária!

   -E o que eu tenho a...

   -Eu fiz ela falar e ela disse que você conversou com ela! Que você falou alguma coisa que fez ela desconfiar de nós dois! - Me levantou pela gola da camisa. - Eu pago salário para você f#der com o meu casamento, seu filho da p#ta? O que você falou?

   -S-senhor...

   -Eu não tenho o dia todo, então é melhor falar de uma vez!

   Eu estava completamente travado. Nunca imaginei que as coisas chegariam naquele ponto. Quando disse aquilo para a Christine, não achei que ela fosse me entregar daquela forma. Ela já sabia o tipo de homem que Marcus era. A essa altura é muito provável que ele já tivesse agredido ela, mas, distraídos na piscina, eu e os meninos não percebemos nada, já que o quarto deles fica no outro extremo da casa. Então, Ollie entra na lavanderia.

   -O-o que está acontecendo?

   -Ollie, sai daqui! - Berrei. - Por favor, sai daqui!

   -A gente só está conversando! - Disse Marcus. - Vamos, obedeça o au pair!

   -Isso não é conversa, você tá prensando ele na parede!

   -Ollie, eu só vou dizer uma vez! - Avisou Marcus. - Se você não sair agora, vai ser o próximo!


   [Continua]

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