Da Redação #05: Das críticas ao Felipe Neto: Análise!

 


   Eu fiz um comentário recentemente em um vídeo de "dossiê do Felipe Neto", que era para ter sido um comentário rápido, e acabou virando um textão, e achei que deveria ter um espaço aqui no blog. Torno a dizer que não defendo o youtuber, mas essa guerra de certo público contra o youtuber suscita certas questões que podem e devem ser debatidas. Então, segue minha análise:

   "Boa noite, Nikolas. Queria fazer uns apontamentos, perdoe o textão! Rs Primeiro, acho que tu confunde um pouco a questão de haverem crianças que assistem e o conteúdo e ele ser feito voltado para crianças. Até 2017 o conteúdo do Felipe não era, mas já era um problema muito discutido como é hoje crianças soltas sem supervisão na internet vendo literalmente o que querem, incluindo, o canal dele. Outra coisa, quando ele fala "vocês tem seis anos" isso era um meme da época satirizando uma reportagem da Folha de São Paulo. Na época mesmo ele dizia que não haviam só crianças no canal e até já mostrou prints provando que eram uma minoria. (É preciso lembrar que o público que tem dinheiro para investir em shows não corresponde com exatidão ao outro que abre os vídeos, ainda mais num país desigual como o nosso, vou falar mais disso no final). Mas, se alguém largou o filho sem supervisão na internet, ele não pode se responsabilizar por isso. Era assim que funcionava na época. Acho que fica meio desonesto associar ter criança no canal (um problema social, crianças sem supervisão na internet) com os vídeos serem ou não voltados para crianças (questão individual do youtuber).

   A outra coisa é que houve uma época, ali por 2017 em que a moda era esse humor sem nenhum limite (que a própria direita sempre defendeu), e muitos youtubers, não só ele, já foram expostos por essa época. Certo, ainda não foi uma coisa legal, mas ele estava seguindo uma tendência no youtube (que é uma das formas de conseguir views, seguir as tendências).

   Agora, é preciso reconhecer nisso a necessidade da educação sexual nas escolas, já que o tema se torna pertinente. Embora esse vídeo trate o Felipe como uma exceção, ele está mais como uma regra. A mídia, a revista, o programa, o desenho, a propaganda, etc... esfrega referências sexuais a torto e a direito na cara das crianças, e não importa quão bons pais sejamos, não dá para impedir que em algum momento eles acabem tendo contato com essas referências. E a educação sexual, tão perseguida, entra exatamente aí, cumprindo a necessidade de ajudar as crianças a lidar de maneira saudável e não destrutiva com essas referências.

   E não é que Felipe nunca tenha errado ou feito nada questionável, não tenho intenção de defendê-lo. O que eu acho complicado é trata-lo como se o caso dele fosse a exceção da regra, como se ele estivesse contrariando e não seguindo a tendência. Acho complicado criar uma atmosfera ilusória de que há uma moralidade social latente que todo mundo segue menos o Felipe Neto, como se ele fosse o único ladrilho torto na rua (o que só favorece a narrativa de que as críticas a ele são todas de fundo político, são porque ele se manifesta politicamente).

   Para fechar, eu quero voltar naquele assunto dos shows. Por mais que a gente tenha o costume de colocar criança sempre no mesmo barco, a criança de onze é diferente da criança de seis, e essas duas quando de baixa renda são diferentes das de classe média alta e etc... Nessas imagens dos shows, o que se vê são crianças de classe média alta, a grande maioria brancas e na faixa dos nove ou dez para cima, que é um público muito específico, mas que eu, que sou professor e educador, com formação pela Unesp e centenas de crianças de diferentes idades e situações sócio-econômicas no currículo, não trataria como se fossem tão inocentes ou influenciáveis nesses aspectos. Como eu falei antes, é leviano tratar de outro jeito: As referencias sexuais estão postas, e esse não é um problema que os pais possam remediar, e sim, prevenir: Sentar, conversar, e serem uma porta aberta para dúvidas com toda a compreensão que for necessária. E essa faixa de dez a doze é quando vem também as primeiras mudanças corporais da puberdade e é quando começa a haver o interesse sexual pelos outros. Então é muito leviano você dizer que uma criança de treze é tão inocente como uma de cinco (inclusive se você pegar pesquisas sobre gravidez na adolescência). Considerando então a faixa de idade das classificações nos vídeos, é muito difícil que um adolescente de treze anos já não tenha visto os termos que Felipe usa nesses vídeos antes (aprendi alguns funks proibidões na marra na creche onde trabalhei antes do Corona quando decidi que a prenda de quem perdesse uma brincadeira com minhas crianças de cinco anos era cantar uma música que eles soubessem para os coleguinhas. Podia ser literalmente qualquer uma, mas escolhiam funk, era um pesadelo! kk). Para essa faixa etária, eu estaria mais preocupado com os conceitos do que com os termos!

   Agora (e somente aqui defendendo), o canal do Felipe demonstra uma curva crescente de maturidade onde pouco a pouco ele vai se adequando aquilo que é correto e necessário para o público que ele tem, o chamado "tentativa e erro". Como um caminhão de frutas onde elas todas vão se ajeitando lá atrás enquanto o caminhão percorre a estrada. E aí, julgar pelo passado é não querer dar chance de ver onde vai chegar no futuro. É claro, tem que haver críticas sim, e tem que haver sempre. Mas críticas são inúteis se não precedem oportunidade. Acho que é isso. Se eu me lembrar de algo mais que seja importante mencionar eu volto a comentar. Boa sorte com teu canal e teu trabalho!"

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